Residência Artivista É Clima!
“Se nós somos a natureza, estamos entupindo nossas veias” Daniel Wera
Texto: @adrianomaneo
Fotos: @satodobrasil
A Terra está esquentando e somos a última geração que pode salvar o planeta. Julho foi o mês mais quente da história da humanidade e ano que vem vai ser pior. O mundo tá se acabando, mas parece que tá tudo normal. Quantos desastres mais são necessários? Tá na hora de se ligar: O FUTURO É AGORA!
A questão climática não é acaso. É a ação humana, mas não uma ação qualquer; uma ação humana muito particular, fruto de um modelo de desenvolvimento individualista e egoísta e uma compreensão mesquinha de mundo, do papel que a humanidade cumpre na terra e da sua relação com a natureza. Para evitar o colapso iminente, a ação climática tem que estar amarrada na justiça social e TEM QUE SER JÁ!
Mas como a gente vence esse ar de normalidade mesmo com o mundo em chamas e debaixo d’água, tudo ao mesmo tempo? Diante da inércia frente a catástrofes e incontáveis vidas e histórias perdidas em eventos climáticos extremos, como engajar corações em temas que podem ser tão complexos e que às vezes parecem tão distantes?
“A política é o espaço da disputa do imaginário na prática” (Jonaya de Castro) e a arte é fundamental nesse processo tão urgente. É arte e ativismo; é artivismo, que inspira, mobiliza, envolve e enjaga.
Comece onde você está!
Diferente do resto do mundo, que tem a energia como a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa (73,2%), 73% das emissões brasileiras são decorrentes do desmatamento e uso da terra. Nesse sentido, o protagonismo da Amazônia na discussão climática é fundamental. Mas calma, sudestino! Não vai inventar de querer salvar a Amazônia só com as ideias da tua cabeça. O Norte é Forte e a Amazônia e suas vozes tem que estar em toda e qualquer discussão sobre a região. Também é importante lembrar que a questão climática é transversal e deve ser tratada em todo o país, tanto na floresta quanto nos grandes centros urbanos. O negócio é somar!
E que jeito melhor de fazer isso do que pelo caminho da arte? Quando Traficante do Amor, do ícone do brega Wanderlei Andrade, sai das cordas do violão de @marcelonakamuraa e do coro Nortista, a conexão se fortalece. Quando o ribeirinho da obra de @andsanttos.arte chega de canoa pelos rios voadores nas cidades do sudeste a conexão se fortalece. Quando @vandsmile deixa nas ruas de São Paulo os stencils e lambes criados pelos jovens da Resex Chico Mendes, a conexão se fortalece.
No sentido inverso, a conexão também se fortalece. A Residência propunha que, durante as manhãs, os artivistas trabalhassem em suas criações. Na parte da tarde, atividades coletivas, compartilhamento de processos, rodas de conversa sobre cosmovisões indígenas , uma visita ao @teatrooficinauzynauzona, o mais antigo de SP, e um passeio sobre o Rio Água Preta que corre debaixo das ruas e becos da Vila Anglo.
Nos dois últimos, uma amostra da realidade paulista na disputa por visões de mundo e modelos de desenvolvimento. No Bixiga, terra do quilombo Saracura, do rio Saracura e da Vai-Vai, a mais antiga escola de samba de São Paulo, o Teatro Oficina, resiste há 65 anos com arte subversiva e contestadora. Na disputa pelo território que já deveria ser inquestionavelmente da companhia de teatro, a mesquinhez das elites, representada na figura de Silvio Santos, insiste em manter um projeto de levantar torres faraônicas e empreendimentos completamente desconectados da história do Bairro e da comunidade.
A saída que a arte do Oficina vislumbra para barrar a insensatez é também pauta ambiental: o movimento pelo @ParqueRioBixiga, que assim como o Água Preta na Vila Anglo e as dezenas e dezenas de rios de São Paulo, corre debaixo do asfalto. É a história que se repete. Um empreendimento particular e excludente ou um parque que integra a cidade à natureza e abre as portas para a comunidade?
Já na Vila Anglo, território do Condô Cultural e um antigo bairro operário, que hoje é sufocado pela gentrificação e especulação imobiliária, o movimento político-cultural que gira em torno do Rio Água Preta -atualmente encanado, mas que vira e mexe insiste em mostrar com suas enchentes que seu curso ainda resiste- tenta manter vivo um modelo de cidade em que a natureza pode ser protagonista e que a coletividade é solução também para o clima. Nessa disputa, muita arte para manter o céu sobre nossas cabeças.
Entre os movimentos do bairro, destaque para o Bloco do Água Preta que parte da Praça Rio dos Campos e segue o curso do rio pra chamar a atenção que, sim, ele existe e resiste. A Praça da comunidade também corre risco. Para minimizar os impactos das enchentes que acontecem todo ano -justamente porque construíram todo um bairro em cima de um rio - a solução da prefeitura é colocar um piscinão exatamente ali. E nesse contexto que a residência circulou durante toda a semana, o fechamento não podia ser outro: artivismo.
Representando a força das águas, uma cobra grande surgiu na praça pra lembrar que ali é território coletivo e que não pode desaparecer. Enquanto isso, uma revitalização nos bancos, uma limpada nos canteiros e um brinde deixado para a comunidade. Pra coroar a semana de muito trabalho e conexão, um sábado de apresentação das obras, dos processos e dos artivistas, regado com muita música e comida do norte.
Onde há esperança, é possível adiar o fim do mundo.
Os artivistas e seus processos
“Teve clipe incendiário, mapa do Brasil pegando fogo , Pico do Jaraguá (é Guarani) sem antenas e preservado, pintura a mão livre com lama de Brumadinho , série de colagens autorais super potentes , Chico Mendes e Raimundão presentes e maravilhosos, performance potente sobre lítio, música, dança e tambores , barqueiro navegando no mar de prédios e cobra em espaço público com mais de 40 metros que já gerou sorrisos de crianças e recebeu até jato d’água de pessoas que se incomodaram com a intervenção e tentaram remover esse artivismo coletivo . Vocês escreveram um capítulo na história do artivismo brasileiro que está só começando. Foi um privilégio acompanhar essa imersão e produção artivista ao lado de vocês. Tenho certeza que todos nós estamos saindo melhores do que entramos.” MUNDANO
Como bem explicou o artivista Mundano, fundador do Pimp my Carroça e grande apoiador do movimento de catadoras e catadores, a Residência teve de tudo um pouco. Abaixo você conhece um pouco dos processos das/dos artivistas e já pega os arrobas pra continuar acompanhando nas redes. Segue lá!
É Clima de Urgência Mapa de tinta acrílica, carvão e lixo sobre tela de Cissa Victal @pollicromia
Lançamento do Clipe da Música Incêndio com Marcelo Nakamura e gravação e edição de Lukas Doraciotto da Maranha Filmes @lukasdoraciotto @maranhafilmes @marcelonakamuraa
Experimento de dança e projeção com a Cia Cambona @ciacambonaoficial
Os audiovisuais de @lukasdoraciotto
Manifesto corpo-território Ambiente político-poético com Anahí Santos @anahi.asa
Atenção Jovens do Futuro! Obra de Vands @vandsmile
Rio Paraopeba, 2021, Lama sobre tela de Marcela Nicolas @marcelanicolass
Ancestralidade Futura, Mapa do Pico do Jaraguá de Daniel Wera e Cissa Victal @danielwera.7 @pollicromia
Série Olheiro, Colagem manual e stencil de Pedro Alace @pedroalace
O ribeirinho nos rios voadores, de And Santtos @andsanttos.arte
Ouro Branco [Lítio], Experimento 01, Performance de (se)cura humana com Flavio Barollo @securahumana
A Residência Artivista É Clima! foi realizada com apoio do Instituto Clima e Sociedade - ICS.